“Política e Igreja não se misturam!”. Muitos católicos consideram tal frase verdadeira. Contudo, na vivência cristã, a política se constitui como dever, obra de caridade e vocação leiga. Diz-se que a fé sem obras é morta. Ora, se o ser humano não vive isolado, mas numa sociedade regida pelo Estado, a ação política não só pode, mas deve ser uma obra digna de fé.
Na prática para que isso aconteça é necessário ter em mente dois princípios norteadores: a dignidade da pessoa humana e o bem comum. Nessa perspectiva, a Igreja interpreta e projeta as luzes do Evangelho para sua aplicação.
Ao observar Jesus como aquele que veio ao mundo para que todos tenham vida em abundância (Jo 10, 10), conceituamos o bem comum – o desapego das próprias aspirações em prol do todo, neste caso, pela salvação da humanidade. Não obstante, reconhecemos a dignidade da pessoa humana apresentada nas parábolas de Jesus sobre a ovelha perdida e o bom samaritano, nas quais se demonstra a pessoa como fim último da sociedade, nunca como meio instrumentalizado.
Por conseguinte, o Compêndio da Doutrina Social da Igreja descreve o ser social como colaborador e responsável pela concretização desses dois princípios na promoção dos valores fundamentais da vida social: a verdade, a liberdade, a justiça e a caridade.
“Amar no plano social significa valer-se das mediações sociais para melhorar a vida do outro ou remover os fatores sociais que causam a sua indigência” (§ 208). Portanto, aquele que se isenta da participação comunitária na democracia, independentemente da dimensão hierárquica que exerce, na verdade está pecando por omissão e falta de compaixão com o próximo.
Em síntese, embora uma fé sólida em Jesus Cristo nos exija fidelidade a princípios inegociáveis da doutrina católica, é nossa missão, a exemplo de Cristo, renunciar aos interesses particulares para que se assegure o bem comum, sem perder de vista a dignidade e a singularidade de cada indivíduo, pois buscar consenso não significa trair valores