Como a maioria das heresias reconhecidas e condenadas pela Igreja Católica, o gnosticismo – mentalidade de origem oriental existente desde a era pré-cristã e aprimorada com os evangelhos apócrifos – nega a salvação através da morte e ressurreição de Cristo ao conceber dois deuses: um mau, criador do corpo e da matéria, e um bom que cria a atmosfera espiritual. Os gnósticos compreendem que para vencer a realidade na qual vivemos, tida como “opressora”, é preciso ser portador de um conhecimento (gnosis).
Ao longo dos séculos, essa concepção foi se moldando aos respectivos contextos históricos, mas sem deixar de influenciar o comportamento individual, tornando o ser humano soberbo e autossuficiente pela razão. O homem passou a elencar argumentos e teorias próprias, visando possuir sempre as respostas para todo conhecimento que se levantasse contra sua opinião pessoal – já que a gnose objetiva derrubar qualquer mandamento doutrinário visto como verdade, pois entende que esta escraviza o espírito. Frente à condição de um universitário católico, o gnosticismo constitui uma trincheira de guerra na qual se sobrevive sob constante ameaça, posto que levantar a voz portando uma verdade de fé contra um exército que ataca com argumentos ideológicos, teorias críticas e comentários depreciativos é quase uma sentença de morte. No entanto, São Paulo sabiamente nos oferece dois conselhos para refutar essa heresia: (1) reconhecer os limites da razão humana diante da grandeza de Deus, pois “a nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá.” (1Cor 13, 9-10); e (2) aprofundar-se na fé por meio da espiritualidade e do conhecimento da doutrina, conforme cita: “Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno.” (Ef 6, 16).